E a cada dia, vou me fechando um pouco mais, tecendo e tentando tapar todos os micro buracos desse meu casulo. Me encolho e torço para que o tempo e a vida passem mais rápido.
Bem, preciso explicar algumas coisas nessa história...
A princípio, queria que algumas outras pessoas se juntassem a mim aqui dentro. Fui tecendo um casulo grande e espaçoso, para que todos pudessem e quisessem aqui se acomodar. Eu tive muito, muito trabalho, para construir sozinha algo tão grande em relação ao meu tamanho, mas valia a pena o esforço para estar com quem escolhi.
Durante certo tempo, fiquei muito orgulhosa de mim mesma, afinal, todos pareciam gostar do local. Se sentiam à vontade e eu ficava feliz de vê-los confortáveis. Éramos uma família feliz, e esse sentimento me bastava. Me satisfazia então, construir mais um pouquinho do nosso lar aqui e ali, para que cada vez mais, todos ficassem, assim como eu, mais satisfeitos. Com aquele sentimento de plenitude. De felicidade completa. De que nada faltava.
Pouco a pouco fui fechando a nossa casinha, já estava quase pronta, e foi então que, sabe-se lá porquê, algumas pessoas quiseram partir. Diziam que tinha sido ótimo, mas que gostariam de morar em outros casulos por algum tempo também. Algumas simplesmente não falavam nada, simplesmente iam saindo à francesa, e quando eu via, já não mais ali dentro, elas estavam. Tudo bem, entendi que existe livre arbítrio e procurei ao máximo respeitar e apoiar as escolhar alheias. Disse a todos eles que se foram, que as portas estariam sempre abertas e que as visitas eram bem vindas.
Ainda assim, continuei com meu trabalho de tecelã, não me daria por vencida assim tão fácil. Teci todo o restante da estrutura e ainda por cima, mais uma porção de sonhos. Sobrou eu e você. Nós. Tanto dentro da nossa bolha, quanto dentro dos meus sonhos. Que por muito tempo, pensei serem seus também.
Era gostoso ficar ali dentro. Eu me sentia feliz como nunca na vida. Experimentei o melhor sentimento do mundo, e eu nunca vou esquecer desse sabor, era tudo tão bonito, parecia de outra cor... E foi então que eu descobri que era isso que as pessoas chamavam de amor.
Desde que eu percebi a grandeza desse tesouro, o medo cresceu junto. Acho que tem a ver com aquilo de ganância, mas não dá nem pra se culpar por isso. Aquela vontade de ter, fazer, viver, cada vez mais amor e o medo de perdê-lo também. Foi então onde tudo mudou. Eu caí na minha própria armadilha.
Eu construí o casulo mais resistente de todos os tempos, tinham muitos e muitos laços e também muitos nós, para que ficasse bem firme, era algo indestrutível. Mas a casa foi ficando cheia com os nossos sentimentos que só cresciam, e eram de todos deles, dos melhores aos piores, e simplesmente não existia uma válvula de escape. Quando notei, o casulo já estava inchado.
Rapidamente, tentei arranjar uma solução eficaz, e fui desatando como louca nossos laços, afinal, os sentimentos tinham invadido e tomado conta de tal forma, que nem ar, nós tínhamos mais. Eu construí um lugar "perfeito", onde tínhamos muita abundância, não nos faltava nada, exceto por esse breve momento, onde nos faltou o mais vital. Ar.
Nessa busca pela sobrevivência, nos desgastamos muito, desfazendo os laços e nós, porém alguns deles, irreparáveis. Eu tinha tanto medo disso acontecer, que aconteceu. Você também se foi... com as muitas e mesmas promessas de visitas!
E eu fiquei aqui a sua espera. Tentando reconstruir esse casulo e torná-lo mais bonito e atraente pra você. Tentando te impressionar para fazer com que você quisesse voltar pra cá. Afinal, agora, com toda essa experiência, esse casulo sim, daria certo! Seria o melhor casulo do mundo! O mais flexível, com válvulas de escape, uma decoração irresistível e muito conforto.
Te esperava por tanto tempo, e nada, até que meu casulo ia murchando, e quando você chegava perto, aquela idéia de lugar perfeito, não mais condizia com o estado atual em que se encontrava. E eu sei que isso te assustava e te desestimulava a voltar. Enquanto eu me entristecia e pirava tentando reparar tudo para que da próxima vez, sim, estivesse como o planejado. Porém em vão, você demorava demais e eu não tinha mais todo esse ânimo e energia para enfeitá-lo pra você.
Hoje em dia, me encontro em um casulo feio, gasto, caindo aos pedaços em algumas partes. É um casulo machucado pelo tempo e pelas circunstâncias da vida. E me fecho aqui dentro. Já não há espaço para mais ninguém, mal para mim mesma. Mas de alguma forma, me sinto segura. Então fico eu aqui, junto com minha solidão, vivendo a vida de lembranças e pensamentos passados.
Quando tenho coragem, dou uma olhada por entre as frestas e vejo o mundo. O mundo está diferente, e por ficar tanto tempo fechada, espremida, sufocada, aqui dentro, já não mais tenho vontade de sair. Perdi o que me era seguro, as minhas referências, e até hoje, ainda espero de alguma forma, o seu resgate.
Hoje tive uma idéia, eu resolvi fazer um pedido de ajuda. É uma tentativa de sobrevivência. Espero ser atendida por esses seres mágicos que eu tenho certeza existirem espalhados por aí.
"Posso virar borboleta?"
Bem, preciso explicar algumas coisas nessa história...
A princípio, queria que algumas outras pessoas se juntassem a mim aqui dentro. Fui tecendo um casulo grande e espaçoso, para que todos pudessem e quisessem aqui se acomodar. Eu tive muito, muito trabalho, para construir sozinha algo tão grande em relação ao meu tamanho, mas valia a pena o esforço para estar com quem escolhi.
Durante certo tempo, fiquei muito orgulhosa de mim mesma, afinal, todos pareciam gostar do local. Se sentiam à vontade e eu ficava feliz de vê-los confortáveis. Éramos uma família feliz, e esse sentimento me bastava. Me satisfazia então, construir mais um pouquinho do nosso lar aqui e ali, para que cada vez mais, todos ficassem, assim como eu, mais satisfeitos. Com aquele sentimento de plenitude. De felicidade completa. De que nada faltava.
Pouco a pouco fui fechando a nossa casinha, já estava quase pronta, e foi então que, sabe-se lá porquê, algumas pessoas quiseram partir. Diziam que tinha sido ótimo, mas que gostariam de morar em outros casulos por algum tempo também. Algumas simplesmente não falavam nada, simplesmente iam saindo à francesa, e quando eu via, já não mais ali dentro, elas estavam. Tudo bem, entendi que existe livre arbítrio e procurei ao máximo respeitar e apoiar as escolhar alheias. Disse a todos eles que se foram, que as portas estariam sempre abertas e que as visitas eram bem vindas.
Ainda assim, continuei com meu trabalho de tecelã, não me daria por vencida assim tão fácil. Teci todo o restante da estrutura e ainda por cima, mais uma porção de sonhos. Sobrou eu e você. Nós. Tanto dentro da nossa bolha, quanto dentro dos meus sonhos. Que por muito tempo, pensei serem seus também.
Era gostoso ficar ali dentro. Eu me sentia feliz como nunca na vida. Experimentei o melhor sentimento do mundo, e eu nunca vou esquecer desse sabor, era tudo tão bonito, parecia de outra cor... E foi então que eu descobri que era isso que as pessoas chamavam de amor.
Desde que eu percebi a grandeza desse tesouro, o medo cresceu junto. Acho que tem a ver com aquilo de ganância, mas não dá nem pra se culpar por isso. Aquela vontade de ter, fazer, viver, cada vez mais amor e o medo de perdê-lo também. Foi então onde tudo mudou. Eu caí na minha própria armadilha.
Eu construí o casulo mais resistente de todos os tempos, tinham muitos e muitos laços e também muitos nós, para que ficasse bem firme, era algo indestrutível. Mas a casa foi ficando cheia com os nossos sentimentos que só cresciam, e eram de todos deles, dos melhores aos piores, e simplesmente não existia uma válvula de escape. Quando notei, o casulo já estava inchado.
Rapidamente, tentei arranjar uma solução eficaz, e fui desatando como louca nossos laços, afinal, os sentimentos tinham invadido e tomado conta de tal forma, que nem ar, nós tínhamos mais. Eu construí um lugar "perfeito", onde tínhamos muita abundância, não nos faltava nada, exceto por esse breve momento, onde nos faltou o mais vital. Ar.
Nessa busca pela sobrevivência, nos desgastamos muito, desfazendo os laços e nós, porém alguns deles, irreparáveis. Eu tinha tanto medo disso acontecer, que aconteceu. Você também se foi... com as muitas e mesmas promessas de visitas!
E eu fiquei aqui a sua espera. Tentando reconstruir esse casulo e torná-lo mais bonito e atraente pra você. Tentando te impressionar para fazer com que você quisesse voltar pra cá. Afinal, agora, com toda essa experiência, esse casulo sim, daria certo! Seria o melhor casulo do mundo! O mais flexível, com válvulas de escape, uma decoração irresistível e muito conforto.
Te esperava por tanto tempo, e nada, até que meu casulo ia murchando, e quando você chegava perto, aquela idéia de lugar perfeito, não mais condizia com o estado atual em que se encontrava. E eu sei que isso te assustava e te desestimulava a voltar. Enquanto eu me entristecia e pirava tentando reparar tudo para que da próxima vez, sim, estivesse como o planejado. Porém em vão, você demorava demais e eu não tinha mais todo esse ânimo e energia para enfeitá-lo pra você.
Hoje em dia, me encontro em um casulo feio, gasto, caindo aos pedaços em algumas partes. É um casulo machucado pelo tempo e pelas circunstâncias da vida. E me fecho aqui dentro. Já não há espaço para mais ninguém, mal para mim mesma. Mas de alguma forma, me sinto segura. Então fico eu aqui, junto com minha solidão, vivendo a vida de lembranças e pensamentos passados.
Quando tenho coragem, dou uma olhada por entre as frestas e vejo o mundo. O mundo está diferente, e por ficar tanto tempo fechada, espremida, sufocada, aqui dentro, já não mais tenho vontade de sair. Perdi o que me era seguro, as minhas referências, e até hoje, ainda espero de alguma forma, o seu resgate.
Hoje tive uma idéia, eu resolvi fazer um pedido de ajuda. É uma tentativa de sobrevivência. Espero ser atendida por esses seres mágicos que eu tenho certeza existirem espalhados por aí.
"Posso virar borboleta?"